Crítica de No Ritmo do Coração
- mindinmaia
- 24 de fev. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2022

No Ritmo do Coração (ou CODA, na versão original, abreviação de children of deaf adults) é um filme sobre comunicação de amor através do silêncio, família e encontrar seu propósito.
Adaptado do filme francês de 2014 La Famille Belier,
No Ritmo do Coração centra-se em Ruby, de dezessete anos, interpretada por Emilia Jones, que é o único membro ouvinte de uma família surda que comanda um negócio de pesca em Gloucester, nos Estados Unidos. Quando o negócio de seus pais é ameaçado, ela fica dividida entre continuar sendo a interprete porta-voz da sua família e seu amor pela música.

Emilia Jones (Locke And Key) apresenta uma performance grandiosa e surpreendente. É notável a dedicação da atriz em mostrar a virada de chave que a vida de Ruby dá quando percebe o seu talento para a música, ao mesmo tempo que enfrenta as piadas que sofre na escola pelo preconceito que existe com pessoas portadoras de deficiência.
Outro ponto interessante é que a diretora Sian Heder não apela para o melodrama. Nem opta pelo cripface, que é um termo utilizado quando personagens com deficiência são interpretados por atores sem deficiência.
Tratando a surdez como uma condição e não uma limitação. Daí se torna importante um elenco com atores surdos, que deixa a história navegando pelo drama e humor sem exageros.

Durante a produção da versão americana, um dos produtores originais, Philip Rousselet se juntou a Patrick Wachsberger, para realizarem a adaptação. Então, Sian Heder foi abordada para dirigir uma nova versão e se encantou pelo material. No entanto, o desejo da diretora era tornar o filme uma obra singular, reinventando a premissa original. Resgatando justamente os erros e defeitos do longa francês original e aprende com eles ao invés de entregar uma simples cópia norte-americana como já cansamos de ver.
Heder aprendeu a língua de sinais americana no processo de escrita e elaboração do roteiro, inclusive foi auxiliada por colaboradores portadores de deficiência auditiva.

Durante a seleção de atores, Heder escalou a vencedora do Oscar, Marlee Matlin, para o papel da matriarca da família. No decorrer do processo de desenvolvimento, os financiadores do filme resistiram em escolher atores portadores da deficiência para os personagens restantes. Matlin ameaçou desistir, a menos que atores com a deficiência fossem escalados, e os financiadores acabaram cedendo. A atriz usou suas conexões com o Deaf West Theatre em Los Angeles - Califórnia, para ajudar Heder a encontrar outros atores para interpretarem os personagens. Uma das principais críticas recebidas pela produção original francesa foi exatamente o fato de escalar atores que não eram deficientes auditivos para os papéis principais.

Devido ao maravilhoso elenco de surdos, a equipe de produção aprendeu diferentes posicionamentos de móveis e técnicas de iluminação. Intérpretes estiveram no local para garantir que os roteiros fossem entendidos e as sugestões do ator fossem ouvidas, desde o foco de como a língua de sinais precisava ser vista até as nuances dos “sotaques” regionais. Emilia Jones até consentiu em falar em inglês americano enquanto não filmava para facilitar a leitura labial de Matlin.

A gente sente o quanto os detalhes foram importantes, inclusive quando a perspectiva da família surda também se faz presente, para impactar seus espectadores. A trilha sonora e todos os outros ruídos são cortados durante alguns segundos no show da Ruby, permitindo que os espectadores mergulhem totalmente na experiência que é o silêncio.

No Ritmo do Coração está concorrendo nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro adaptado e Melhor Ator Coadjuvante para Troy Kotsur, que foi o primeiro ator surdo a ser indicado ao prêmio. Marlee Matlin, foi a primeira pessoa surda a ser indicada e a ganhar um Oscar, em 1987, por Filhos do Silêncio, como Melhor Atriz.
★★★★☆ 4/5
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