Crítica de Nimona
- mindinmaia
- 15 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Desde a infância, os quadrinhos têm sido uma parte fundamental da minha vida, desde as primeiras leituras da Turma da Mônica até as obras de Noelle Stevenson, que eu avidamente acompanhava online. Ao descobrir o lançamento de Nimona pela Editora Intrínseca, decidi que precisava dessa edição.
A primeira página de Nimona me cativou instantaneamente com seu humor ácido e sua protagonista única. Ela é uma metamorfa com poderes extraordinários que decide se tornar comparsa do vilão Ballister Coração-Negro. No entanto, ela logo descobre que seu ídolo tem escrúpulos, o que não a impede de quebrar as regras da vilania eventualmente.
Baseado na HQ, com direção de Nick Bruno e Troy Quane ele chega como uma animação na Netflix, divertida, inteligente e emocionante que fala sobre fluidez de identidade, manutenção do status quo, controle, poder e preconceito em uma sociedade que é tanto medieval quanto futurística e na qual as pessoas foram ensinadas a não gostar de nada que seja “diferente”, o que não é muito diferente da nossa própria realidade.
Esse filme quebra totalmente as expectativas de um clássico, ele faz você sentir os personagens, é muito mais que apenas uma historinha. Um cavaleiro é acusado de um crime que não cometeu, e a única pessoa que pode ajudá-lo a provar sua inocência é Nimona, a adolescente que muda de forma e que também pode ser um monstro que ele jurou matar.
O filme se destaca por sua notável qualidade, expressa tanto em sua magnífica animação quanto em sua trama, embora apresente um leve descuido no roteiro. Embora, algumas cenas irão causar críticas negativas em respeito à representação LGBTQ+. Estas críticas, em minha visão, é contraditória, especialmente ao considerarmos a longa história de normalização de cenas românticas em filmes infantis ao longo das décadas. Desde clássicos como A Bela e a Fera até obras mais contemporâneas como Frozen, temos sido expostos a beijos e demonstrações de afeto entre personagens heterossexuais sem questionamento ou contestação. Portanto, julgo como incoerente o ato de criticar um beijo entre pessoas do mesmo sexo enquanto se aceitam, de forma passiva, manifestações heterossexuais.
É crucial enfatizar que a questão em pauta não se restringe apenas ao estímulo à criança, mas sim à apresentação de relacionamentos fundamentados em sentimentos como amor, carinho e respeito, independentemente da orientação sexual dos indivíduos envolvidos. Esta é uma oportunidade para instruir as crianças sobre diversidade e inclusão desde os estágios iniciais de desenvolvimento, ensinando valores de aceitação e apreciação das diferenças.
Além disso, a reflexão sobre a identidade de gênero, simbolizada pela habilidade da protagonista de se metamorfosear, é igualmente importante. Não se trata de instigar uma atitude rebelde, mas sim de demonstrar às crianças que é perfeitamente natural se sentir único e que todos merecem ser amados e reconhecidos, independentemente de suas singularidades individuais.

O filme proporciona, assim, uma oportunidade valiosa para os pais dialogarem com seus filhos sobre temas cruciais, tais como diversidade, identidade e relacionamentos, de acordo com as orientações educacionais e apropriado à faixa etária. É altamente recomendável que os pais assistam ao filme previamente, estejam preparados para abordar as questões dos filhos com sensibilidade e abertura, e desenvolvam as conversas conforme se sintam confortáveis.
Nimona, adota uma abordagem lúdica e perspicaz em relação a temas relevantes, sem comprometer sua adequação à faixa etária indicada. Representa, assim, uma oportunidade valiosa para incentivar diálogos significativos e instrutivos com as crianças sobre diversidade, identidade e relacionamentos, fortalecendo valores de respeito, tolerância e inclusão desde os primeiros anos de vida.
★★★★★ 5/5
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